Segundo levantamento do g1, Amazonas registrou um aumento no número de crimes violentos entre os anos de 2020 e 2021. No primeiro, foram 1.019 registros oficiais. Já no ano passado, 1.571.
Tio de jovem morto no transporte coletivo de Manaus pede justiça.
A morte do indígena Melquisedeque Santos, de 20 anos, completou dois meses na quinta-feira (17). Ele era aprendiz e foi morto no dia 17 de dezembro, durante assalto a um ônibus do transporte coletivo de Manaus. O menino voltava para casa, após um dia de trabalho, com uma cesta de natal para a família. O caso é mais um entre os 1.571 crimes violentos no Amazonas em 2021.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-AM), o Amazonas registrou um aumento de 54% no número de crimes violentos entre os anos de 2020 e 2021. Os dados constam no Monitor da Violência do G1.
A alta acontece na contramão do país, já que o Brasil teve queda no número de assassinatos no ano passado, segundo levantamento do Monitor da Violência. Em 2020, foram 1.019 registros oficiais de mortes violentas no Amazonas. Já no ano passado, foram 1.571. Entre eles, está Melquisedeque.
A família ainda sofre com a perda. Segundo o tio do menino, Rucian Vilacio, a sensação de impotência diante da morte e da insegurança é algo que só piora com a falta de celeridade na elucidação do caso.
“Estamos há dois meses esperando alguma resposta das autoridades sobre o caso do Melque. A vida dele foi ceifada de forma brutal. Ele perdeu a vida no transporte coletivo. Agora, esperamos celeridade da justiça. O processo está se arrastando. Sabemos pela mídia que tem apenas um rapaz preso e, até agora, nada mais foi dito. Queremos justiça”.
O pesadelo diário também é revivido todos os dias quando Rucian utiliza o transporte coletivo da capital do Amazonas. Para ele, a sensação de insegurança entre as pessoas só cresce, e a pouca resposta das autoridades faz com que o crime se espalhe mais rapidamente.
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Melquisedeque Santos, de 20 anos, foi morto por assaltantes em Manaus. — Foto: Arquivo Pessoal
“Eu continuo usando o transporte coletivo, mas não me sinto seguro. A cidade está cada vez mais violenta. A gente vê isso no rosto das pessoas, elas andam com medo. A gente precisa ir trabalhar, se sentir seguro, voltar para casa em segurança. Deixamos gente em casa, nossos filhos, pai, mãe, e não sabemos se vamos voltar. Todo dia é uma luta, e a gente continua aqui pedindo justiça pelo Melquisedeque.”
No dia 18 de dezembro, um dia após a morte do indígena, a Polícia Civil chegou a prender um dos envolvidos no latrocínio. No entanto, até agora, ninguém mais foi detido.
O G1 questionou a PC sobre o avanço das investigações. Em nota, o órgão informou que o caso está sob responsabilidade da Delegacia Especializada em Roubos, Furtos e Defraudações (DERFD). O delegado Adriano Félix ressalta que as investigações em torno do ato criminoso estão em andamento, mas outras informações não podem ser repassadas no momento.
Criminalidade avança no estado
O latrocínio foi um tipos de crimes violentos que registrou alta entre os anos de 2020 e 2021. No primeiro, foram 46 casos registrados pela SSP. Já no ano passado, esse número chegou em 69. O aumento foi de 50%.
Além disso, os homicídios dolosos também aumentaram no comparativo entre os dois anos. Em 2020, foram 954 registros. Já em 2021, o estado teve 1.487. O aumento foi o maior entre os monitorados pelo G1: 55,9%.
O único crime que houve redução foi o de lesão corporal seguida de morte. Em 2020, foram 19. Em 2021, 15. O G1 questionou a Secretaria de Segurança Pública sobre o aumento da criminalidade no estado e perguntou quais são as iniciativas do órgão para barrar essa investida.
Em nota, a SSP disse que reforçou operações policiais na capital e interior com objetivo de efetuar as prisões dos autores de homicídios e prender pessoas envolvidas com o tráfico de drogas.https://c818da741ab0e39cdc76362082eca7e2.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
De acordo com os dados do Centro Integrado de Estatística de Segurança Pública (Ciesp), em 2021 foram realizadas 567 prisões por homicídios no Amazonas. E pelo crime de tráfico de drogas, as polícias do estado realizaram 3213 prisões.
Especialista aponta falta de políticas públicas
A professora de Direito Penal e mestra em Segurança Pública, Goreth Rubim, destacou três motivos que ajudam a elevar o número de crimes violentos no estado.
“Antigamente, a gente via que os crimes violentos estavam associados à ingestão de bebida alcoólica. Era um fator preponderante. Hoje, além desse fator, temos também o tráfico de drogas, que é crescente aqui no estado, e a violência doméstica familiar, que é o homicídio qualificado pelo feminicídio. No período da pandemia, em que as pessoas precisavam ficar em casa, houve uma elevação em relação aos casos de feminicídio”, alertou.
Goreth também destacou que faltam políticas públicas mais efetivas para combater a criminalidade. Além disso, é preciso aumentar o aparato das forças de segurança para que eles consigam dar uma resposta efetiva aos casos e à sociedade.
“Não basta só criar leis. Por exemplo, foi criada a qualificadora do feminicídio, mas não diminuiu o número de casos. Pelo contrário, até que aumentou. Então o foco para combater os crimes é a criação de políticas públicas que busquem conscientizar a sociedade e criar aparatos para que o estado consiga exercer bons papeis de investigação. Se tivéssemos um investimento maior na polícia, se tivéssemos programas de ronda, poderíamos buscar reverter isso”.https://c818da741ab0e39cdc76362082eca7e2.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
“Boa parte das localidades [onde ocorrem crimes violentos] são as zonas Norte, Leste e Oeste. Observamos que são áreas periféricas, áreas onde o tráfico comanda. Se tivéssemos programas para que a polícia pudesse exercer uma atividade mais efetiva, isso ajudaria bastante na diminuição desses números”.
( Com Informações: G1 AM )